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APARAS DE ESCRITA: DEIXAR CAIR AS VERGONHAS

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quarta-feira, junho 01, 2005

DEIXAR CAIR AS VERGONHAS

Há vergonhas que é uma vergonha uma pessoa ter. Ora, isto traduz-se numa vergonha acrescida, já que, para além das vergonhas hospedadas, ainda há a vergonha de as hospedar.
Vergonha da calva, ou de possuir uma farta cabeleira ruivo-cenoura; vergonha de ser baixo, ou, pelo contrário, de se assemelhar a um jogador de basquete americano; vergonha de ter um olho de cada cor, ou de fitar os outros com estrabismo divergente; vergonha de parecer um esqueleto mal coberto de pele, ou uma esfera grande com outra mais pequena acoplada; vergonha de ser desengonçado, ou de caminhar como um fuso; vergonha da marreca, ou da perna mais curta; vergonha de gaguejar, ou da fala "dopinha de mada"; vergonha, enfim, de ser diferente.
Mas diferente de quê? Diferente do que é normal, e o primeiro erro está aí, porque ninguém é "normal", ninguém pertence a um quadro estatístico normal. Todos somos diferentes, únicos, logo, "a-normais". O segundo erro, que provém desta obsessão de não ser discordante de um modelo inexistente, consiste no esquecimento dramático das qualidades, capacidades e virtudes que nos tornam ainda mais genuinamente indivíduos e nos colocam numa situação vantajosa para servir os outros.
Também destas fraquezas se alimentam os consultórios dos psicólogos e outros profissionais que lidam com o comportamento, a par de disfunções pesadas e, essas sim, preocupantes. Mas porquê? Porque cada um tem direito a ser ainda mais feliz do que consegue imaginar, e essas pequenas-grandes vergonhas tornam-se um obstáculo à consecução dessa felicidade. Vai-se pedir ajuda, então, a quem diz saber destas coisas. Apresentam-se queixas de dificuldade de relacionamento. Não as queixas da timidez. A timidez é uma dificuldade de iniciar a relação. Estas vergonhas espelham-se na dificuldade de estar na relação.
Quando eu começo esta crónica dizendo que há vergonhas que são uma vergonha para quem as tem, quero dizer que elas aparentemente, mas só aparentemente, eu sei, não têm sentido, porque ou são estados consumados, irreversíveis, ou são modificáveis pelo desejo e/ou o esforço do próprio. Mas reconheço que têm todo o sentido, na medida em que fazem sofrer quem delas se quer ver livre.
Pondo de lado as vergonhas específicas de certas épocas da vida (as crianças, os adolescentes, os velhos têm as suas vergonhas próprias que nascem morrem e nascem em ciclos de vida), as vergonhas atípicas da idade, mais ou menos estabelecidas, podem ser manobradas, daí a recorrência ao psicólogo. Ele fará incidir a sua actuação nas causas das vergonhas, tentando decompô-las, desmistificá-las e diluí-las no conjunto do comportamento, para, assim, fazer sumir o mal-estar que motiva a queixa.
Talvez a maioria das técnicas utilizadas seja uma questão de bom senso, o que, muitas vezes, pouco existe em quem apresenta determinado tipo de sintomatologias. A receita é simples. A dificuldade pode estar em pô-la em prática, donde a necessidade do apoio externo.
Se há aspectos do meu estar e do meu ser que me envergonham e, portanto, me incomodam, vou aplicar o meu trabalho a modificá-los. Se esses aspectos são absolutamente irreversíveis, terei, então, de aprender a viver com eles. Alguns poderão ser, quem sabe?, valorizados.
Perder vergonhas é, pois, não só saudável, como indispensável para um equilíbrio integral da vida. Quem tem vergonhas, que as deixe ficar pelo caminho como inutilidades. Que se percam as vergonhas, todas.
Todas excepto uma: a vergonha. Essa que nos alerta quando o ético social, o deontológico, o respeito pelo alheio e por nós próprios é beliscado. Essa, claro, deve permanecer connosco. Se assim não for, corremos o risco de formar uma sociedade de grandes desavergonhados, ridiculamente preocupados com pequeninas vergonhas.

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