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APARAS DE ESCRITA: MÃE, NÃO HÁ SÓ UMA

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quinta-feira, maio 12, 2005

MÃE, NÃO HÁ SÓ UMA

Se uma qualquer mãe pudesse deslocar-se à volta do mundo durante um ano, teria oportunidade de ser homenageada um número apreciável de vezes durante a viagem.
No passado dia 8, segundo domingo de Maio, festejou-se em vários países, incluindo o Brasil, o Dia das Mães, como por aqui se diz. Na semana anterior, primeiro domingo de Maio, festejara-se o Dia da Mãe em Portugal. No próximo dia 29, último domingo de Maio, festejar-se-á o Dia da Mãe em França e na Suécia. E se continuarmos a percorrer o calendário, poderemos assinalar muitos outros dias ao longo do ano em que a Mãe é distinguida.
Tanto lhe fará ter sido reverenciada há 15 dias em Portugal, há 8 no Brasil ou sê-lo só daqui a três semanas em França e na Suécia. O que pontua é o seu estatuto, a memória que lhe avivam de que foi e é mãe.
Por essa ordem de ideias, não faz muita diferença falar desse dia há duas semanas, há 8 dias ou só no fim do mês; seja qual for a escolhida destas três datas, estaremos sempre actualizados, nem antes, nem depois. Isto é tanto mais extensivo ao ano todo, quanto são variadas as efemérides relativas à Mãe ao longo dos 365 dias.
Para além disto, se pretendermos aplicar ao Dia da Mãe o que o poema musicado diz com respeito ao Natal, ?o Natal é quando um homem quiser?, então temos que não choca susceptibilidades pensar, viver e comemorar o Dia da Mãe em qualquer dia do ano, ou mesmo todos os dias.
Por isso o faço agora sem reservas, com a ressalva de que não estou a falar da minha mãe, mas da Mãe, figura universal, entidade que corporiza todas as mães do mundo.
Sendo assim, é oportuno esclarecer que Mãe é essa.
O ditado popular diz que ?mãe há só uma?, mas isso só é válido na perspectiva reducionista da figura da mãe a uma função genética. Na verdade, mães há muitas, podendo, até, para cada caso, estar organizadas à volta da mesma matriz humana.
No passado de uma ou duas gerações, era mais natural fazer coincidir as várias mães numa só. Com raras excepções e desvios pouco acentuados, mãe era aquela que produzira o óvulo, guardara a criança mistério durante nove meses no seu ventre, gritara com dores para a pôr no mundo, lhe transmitira os seus valores, as suas referências, os seus códigos, a sua ética, a sua cultura durante alguns anos, fora amparada mais tarde por essa criança adulta e, finalmente, deixara uma saudade, ou, pelo menos, uma memória definida e situada na criança desse adulto.
Com a proliferação e o desenvolvimento dos papeis sociais, também as imagens se multiplicaram, ora convergindo, ora divergindo em relação a um mesmo objecto, neste caso a mãe.Logo nos lembramos, em primeiro lugar, da mãe genética. Indispensável e única, nem por isso é necessariamente a que recebe mais e mais profundas manifestações de afecto. A expressão ?a voz do sangue? pode servir para justificar (ou chantagear) muitos actos, mas não tem qualquer fundamento.
A mãe de aluguer ou uterina. Penso não haver ainda um número suficientemente significativo de experiências que permita desenhar com alguma segurança uma imagem representativa. Será que pode vir a identificar-se com a imagem de uma mãe desaparecida precocemente, a ponto de não deixar, sequer, recordações?Mãe adoptiva. Numa adopção não revelada, é uma mãe como as outras. Não colhe o argumento de não ter parido para daí se concluir um amor menor. Quantas dão à luz e abandonam? Quantas adoptam e investem toda uma vida, toda a vida? Se a adopção for conhecida, a imagem vai depender do investimento afectivo da mãe e do seu comportamento como mãe, por forma a diluir nas relações filiais o fictício da maternidade.
Mãe desconhecida. Quando se ignora que se teve outra mãe, não faz sentido falar em mãe desconhecida. Caso contrário, deparamos com as figuras de mãe imaginária e mãe desejada.
A mãe imaginária é fruto de uma elaboração interior, complexa, a partir de necessidades afectivas cruzadas com a percepção do que são as mães conhecidas que habitam o quotidiano. O imaginante acredita que ela existe algures, aqui ou num mundo fantástico, mas prefere que ela não se materialize, para, assim, preservar a magia.
Pelo contrário, a mãe desejada pressupõe a vontade de fazer saltar do devaneio para a realidade uma mãe que se gostaria de ter, mesmo, e principalmente por isso, tendo mãe.
A mãe ama aproxima-se da mãe adoptiva, e praticamente coincide com essa figura, quando não existe mãe de facto. Se as duas coexistem, então a mãe ama desempenha o papel de uma quase mãe, em contraponto a uma mãe ausente. Quanto mais prolongada e/ou profundamente for sentida a ausência, maior será a identificação da mãe ama como mãe.
A mãe ausente é, pois, aquela que, fisicamente próxima ou afastada, voluntária ou circunstancialmente delega os afectos e o acompanhamento no que toca ao crescer e ao desenvolver-se, ainda que providencie todas as comodidades e a satisfação de todas as necessidades materiais (quase todas, já que o contacto físico está, de um modo geral, excluído da relação).
Madrasta é, antes de mais, uma palavra duplamente antipática: do ponto de vista sonoro e de pronúncia. Quanto à conotação, está associada a uma personagem habitualmente pérfida nos contos infantis. Na prática, não tem de ser pior nem melhor do que uma mãe, dependendo a sua aceitação não só do seu empenhamento, como do contexto em que assumiu esse papel. Se ela souber, puder e conseguir preencher um vazio deixado pela fuga ou pelo desaparecimento de uma mãe, tornar-se-á no ponto de convergência feliz dos afectos dispersos e desnorteados que aquela fuga ou aquele desaparecimento motivaram.
Nesta abordagem, talvez não completa, deixei para o fim, propositadamente para última, a mãe saudade. Para última porque ela pode reportar-se a qualquer das anteriores, embora haja o risco de parecer que uma ou outra não se enquadra numa perspectiva de saudade. É que nós estamos habituados a agregar a saudade a qualquer experiência que se viveu no mundo dos sentidos. Mas parece-me ser de aceitar como verdade que uma vivência imaginária intensa pode deixar o mesmo sabor amargo.
Vivemos numa sociedade que, apesar de tudo, permite opções.
No caso vertente, face ao leque que me é oferecido, posso escolher o dia em que quero comemorar o Dia da Mãe. Depois, e mais importante do que isso, posso escolher a mãe que vou homenagear.
Esta é, para mim, uma das grandes conquistas, não da democracia, mas da união, nem sempre fácil, nem sempre bem conseguida, entre a inteligência racional e a inteligência emocional, as duas grandes charneiras da vida psíquica do ser humano.

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