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APARAS DE ESCRITA: TRÊS CARTAS INÉDITAS DO PAI-NATAL

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sábado, dezembro 22, 2007

TRÊS CARTAS INÉDITAS DO PAI-NATAL










IMAGEM: www.opinorama.com.ar/archives/la-mentira-dos


1ª carta: O Pai-Natal faz a campanha (e apela aos eleitores).

Queridos Amiguinhos,
Já repararam, com certeza, na alegre azáfama que vai por essas ruas, com montras mais bem decoradas do que o habitual, arcos enfeitados,lâmpadas coloridas, fios de prata, estrelas reluzentes, eu sei cá...
E as pessoas? Parecem formiguinhas inquietas, quase se chocando, daqui para ali, num vai-vem constante, às compras.
É que – já viram o calendário? – falta muito pouco para o Natal!... Que bom!, não é? A Consoada com os Paizinhos, os Avozinhos, os Manos, os Tios, os Primos, enfim, a Família, todos muito felizes, muito amigos; até a criada, que às vezes é malcriada, anda sorridente. E os doces que a Avó costuma fazer? E os bombons? Adivinho que estão com água na boca só de pensar... E, o melhor de tudo, à meia-noite, quando já estiverem a dormir, eu desço pela chaminé com o meu saco de presentes, e vou distribuí-los pelos sapatinhos engraxados que os meus Amiguinhos puseram ao pé do fogão. Que surpresa e que alegrias no dia seguinte...
Mas atenção: nada se consegue sem esforço e, se calhar, nem todos os meninos vão ser contemplados. Quando isso acontece – e tem acontecido algumas vezes – eu fico muito triste, muito triste, mesmo. Ter de voltar para casa com brinquedos no saco é o pior que me pode acontecer, e até costumo comentar com a minha rena: "se este ou aquele menino se tivesse portado como eu recomendei, não regressaríamos com brinquedos por distribuir". Mas, é claro, não posso deixar de castigar os que não cumprem, nem tratá-los como se eles se tivessem portado bem; isso não! Seria uma injustiça, e o Pai-Natal não pode permitir essas coisas. De modo que o melhor é, para alegria de todos, nestes poucos dias que faltam para o Natal, os meninos se esforçarem ainda mais por fazer as coisas como deve ser. Para isso eu vou ensinar algumas regras que não custa nada cumprir; é preciso apenas boa vontade e... não se esqueçam de que nada se faz sem esforço, por pequenino que ele seja – os presentes que tenho para vocês valem bem este esforço.
A primeira coisa a fixar é que o Pai-Natal é um amigo, e aquilo que ele pede que façam é mais do vosso interessa do que do interesse dele. O Pai-Natal não vos engana, e se vos diz isto é porque é verdade, do mesmo modo que se promete, cumpre.
A segunda regra diz respeito à vossa Família, mais propriamente aos vossos Pais. Os vossos Pais querem-vos muito bem, quase tanto como o Pai-Natal; o Pai-Natal um bocadinho mais porque ele tem por missão gostar de todos os meninos – que se portam bem, claro. Mas se os vossos Pais às vezes vos ralham, vos contrariam ou, até, vos dão uma palmada ou outra, é só para que amanhã, quando vocês também forem pais, saibam educar os vossos filhos, do mesmo modo, dentro dos sãos princípios em que eles querem ensinar-vos a viver. Portanto, a segunda regra é a da obediência às pessoas mais velhas da família, principalmente aos vossos Paizinhos. E, tomem nota, é por eles que eu vou saber se os meus Amiguinhos se portaram bem ou não e, assim, a quem vou distribuir presentes.
A terceira é a obediência às pessoas mais velhas que não fazem parte da Família. O Senhor Professor, o Senhor Padre, o Senhor Polícia são pessoas em quem se pode confiar e a quem se deve obedecer. As pessoas mais velhas já viram muita coisa, sabem mais do que vocês e, por isso, são bons guias. Mas também há pessoas como a criada, a mulher-a-dias, o homem que arranja as torneiras ou o motorista do táxi que pensam que sabem mas não sabem, e têm muitas ideias erradas. Quando pessoas como estas vos disserem alguma coisa, não acreditem logo, mas perguntem primeiro aos vossos Pais se o que essa gente diz dizem é verdade.
A quarta e última regra – para quem não cumprir não haverá presentes – é a seguinte: todos os meninos terão de me escrever uma carta a explicar o que pensam do Natal e do Pai-Natal. Os meninos que ainda não sabem escrever podem pedir ajuda aos Manos mais velhos ou aos Pais. Daqui a pouco tempo preciso de ter todas as cartas para poder avaliar a evolução dos meus Amiguinhos desde o ano passado.
E agora, uma última recomendação: esta época é de paz, alegria, compreensão entre as pessoas. Quero que sejam bonzinhos para os outros meninos e para toda a gente aí de casa. Por isso, vão ter com o Pai e a Mãe, dão-lhes um beijinho, e entregam-lhes esta carta que no fim tem uma parte para eles. Não vale a pena vocês lerem esse bocado porque não perceberão. É mesmo só para os vossos Pais.
Entretanto, eu fico à espera das cartas dos meus Amiguinhos.
Sejam bem comportados, que o Pai-Natal cumprirá as promessas – e que maravilhas para este ano...
Um grande xi-coração do
Vosso muito amigo
Pai Natal

Aos Pais dos meus Amiguinhos:
Tlim-tlim-tlim-tlim-tlim-tlim-tlim-tlim. Leia-se quantas vezes se quiser, sempre em escala descendente, em colcheias, dois por quatro, vivo, suave, acabando em sol maior. Cante-se o Jingle Bell com fundo de guizozinhos, sininhos e campainhazinhas, e misture-se com o Stille Nacht; desaparece o primeiro, e este permanece em surdina até chegar a uma receptividade serena, de preferência com lágrimas nos olhos. A acção é de sempre,mas pode situar-se, depende da preferência, três anos depois do nascimento do(a) menino(a) que fomos e, neste caso, suprimem-se as lágrimas, substituindo-as, com vantagem psicofisiológica, pelo tremeluzir das velinhas do pinheiro de Natal.
O Jingle Bell volta a primeiro plano com guizozinhos e, agora, um tropel suave de rena, alegre e saltitante (veja-se a diferença entre a pata da rena e a do cavalo, para evitar confusões sempre aborrecidas). Vai crescendo, crescendo. O coração bate com mais força, transborda de alegria.
- "Vem aí o Pai-Natal"!


2ª carta: O Pai-Natal ganha as eleições (e informa os eleitores).

Meus Amigos,
Estamos a poucos dias do Natal, e a vossa impaciência cresce. É natural. Mas tendes de dominá-la, pois a paciência e a sua companheira – a resignação – são duas virtudes que é preciso cultivar pela vida fora para se poder ser feliz. Por vezes nem tudo corre como nós gostaríamos, mas que havemos de fazer? A vida é feita de sacrifícios e, apesar de tudo, há coisas piores que poderiam acontecer-nos.
Antes de mais nada, quero tranquilizar-vos: a maioria dos meninos – bem educada pelos Pais – continua a apoiar o Pai-Natal e, mais uma vez, a causa do Pai-Natal pôde registar um êxito estrondoso, esmagando aqueles que tentam desacreditá-lo.
Contudo, não estou muito contente. Apesar das inúmeras cartas que recebi, algumas das quais me são muito gratas, não responderam ao meu apelo tantos meninos como eu esperava; e até alguns dos que me escreveram se mostraram insolentes ou cépticos. Não posso deixar de pensar maduramente no sucedido. Triste sinal dos tempos: a indiferença, terrível cancro, a instalar-se, o cepticismo a minar as ilusões que durante tantos séculos foram o conforto das nossas crenças de crianças, a desobediência a ganhar força de qualidade moral; é este o resultado da liberdade mal compreendida e mal utilizada. As pessoas devem ser livres, sim, mas não podem servir-se dessa liberdade para inquietar os outros, destruir as crenças tradicionais, propagar a desilusão, semear a desordem mental, que é o primeiro passo da desordem pública com todo o seu cortejo de horrores...
Recebi uma carta de um menino que, depois de fazer os seus comentários ao Natal, dizia que ia esperar por mim ao pé do fogão. Então este menino não sabe que o Pai-Natal só desce pelas chaminés quando todos estão a dormir? Ou será que o menino em questão precisa de ver o Pai-Natal para acreditar nele? É evidente que nenhum presente haverá para este menino, assim como para aquele que escreveu a pedir uma caixa de jogos educativos, como se o Pai-Natal não soubesse o que mais convém às crianças. E que dizer daquela menina que pediu um livro sobre o nascimento dos bebés? Que tem uma menina de saber tão cedo dessas coisas? Houve dois amigos – um rapaz e uma rapariga – que foram ao extremo de considerar o Natal uma hipocrisia, e de dizer que não havia direito de se falar em festas de Natal quando não sei quê nem sei que mais. Estão a ver? Queriam tirar-nos o Natal! Se tenho de chamar ao rapaz um marginal, penso que a rapariga terá qualquer distúrbio mental grave. Estes, nem sequer apanham pó de carvão no sapato; eram capazes de o utilizar contra o Pai-Natal e a Humanidade.
Por estes exemplos que, de certo, vos envergonham, podem imaginar como estou preocupado, apesar, repito, da brilhante vitória de adesão que mais uma vez o Pai-Natal conquistou por parte da maioria dos meninos que, afinal, serão os Homens amanhã. Mas a minha preocupação é legítima. Um germe mau pode destruir um campo bom, se não se tomarem a tempo as medidas adequadas. Com o vosso apoio, vamos tomar essas medidas. É evidente que o Pai-Natal nada pode fazer sem a ajuda dos meninos, ou melhor: os meninos é que terão de empreender uma acção seguindo os conselhos e com a ajuda do Pai-Natal. O que o Pai-Natal pensa do assunto é o seguinte: há que descobrir todos aqueles que querem destruir esta maravilhosa instituição que é o Natal. Há que denunciá-los, para que a vergonha os leve a reflectir sobre o criminoso acto que estão a cometer. Há que isolar os irrecuperáveis, de modo a impedir o contágio. Esmague-se o vírus! A nossa Civilização está em perigo! Salvemos o Natal!
Mãos à obra!
Viva o Natal!
Pai-Natal


3ª carta: o PAI-NATAL (tecniciza-se, burocratiza-se e institucionaliza-se).

Quase véspera de Natal
A todos os Meninos dois pontos parágrafo Muitas têm sido as manifestações de carinho e compreensão que o Pai-Natal tem recebido vírgula tanto de meninos como até de núcleos de Pais stop Os inimigos do Natal e do Pai-Natal estão praticamente derrotados stop O Pai-Natal apela à vigilância vírgula principalmente neste período stop A distribuição de presentes vírgula dado o regime de austeridade que é preciso impor para salvaguarda dos nossos valores vírgula assumirá um carácter utilitário stop Começou já a distribuição do seguinte material dois pontos tanques de guerra modelo americano tele guiados vírgula jeeps tipo África do Sul vírgula a pilhas de volt e meio vírgula aviões Mirage copiados à escala ponto e vírgula espingardas e metralhadoras de fabrico nacional vírgula imitação quase perfeita das autênticas vírgula que disparam projécteis de plástico recuperáveis ponto e vírgula miniaturas de trens de cozinha vírgula jogos de sala e de quarto vírgula bonecas que fazem xi-xi quando bebem leite abrir parêntesis distribuição reservada às meninas que consomem leite em casa fechar parêntesis vírgula guarda hífen roupa para bonecas vírgula incluindo trajes de passeio vírgula caça vírgula, praia vírgula e noite ponto e vírgula livros da colecção aspas aventura aspas e aspas sonhar aspas ponto e vírgula aos meninos e meninas cujas cartas mereceram apreço especial serão oferecidas fardas de fuzileiros e aventais de cozinha vírgula respectivamente stop. O critério de distribuição foi cientificamente elaborado com base nos dados apurados das cartas recebidas vírgula nomeadamente características psicológicas vírgula aproveitamento escolar vírgula zonas habitacionais e profissão dos pais stop Em reunião dos representantes dos Meninos com o Pai-Natal vírgula a convocar brevemente vírgula será discutido o efeito desta distribuição e serão estudadas outras formas de persuasão a utilizar junto dos que agora nada receberam devido ao seu comportamento condenável stop parágrafo Quero aproveitar para informar ainda que foi dada ordem para apagar a estrela deca digo cadente dos Reis Magos de modo a que o Natal não possa ser facilmente detectado pelos que o pretendem destruir stop parágrafo
Abaixo os anti-Natal
Viva o Natal
Viva o Pai-Natal
Assinado
P.A. - I / NAT. - AL

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