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APARAS DE ESCRITA: EM MEMÓRIA

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quinta-feira, julho 14, 2005

EM MEMÓRIA


A França comemora hoje a tomada da Bastilha.
Acto revolucionário, colectivo como todo o acto verdadeiramente revolucionário, pôs fim, no século XVIII, ao reinado despótico dos reis absolutistas, e mostrou ao mundo a intenção da prática da generosidade como referência nas relações sociais, sob a forma de liberdade, igualdade e fraternidade.
Paris festeja com uma das maiores paradas militares a que é possível assistir, e convida outras nações para, no local, aplaudirem o seu poderio em soldados bem treinados, material de guerra da penúltima geração (por certo a última não mostra), armas sofisticadas e munições de sobra. E nós sentimos alguma tranquilidade, porque um dos pilares da defesa europeia está bem armado.
Enquanto isso, Londres celebra hoje o 7º dia de luto.
Luto pelos mortos. Luto pela paz, que morre todas as vezes que é confrontada com um acontecimento semelhante ao do 7 de Julho. Luto pelos vivos, que não são capazes de evitar esses acontecimentos.
Durante os primeiros dias a emoção falou alto e com raiva na morte de inocentes. Enquanto vivos, ninguém é inocente.
Os agentes do terror não são inocentes. São juízes-carrascos de julgamentos sumários com regras arbitrárias sem direito a apelação, sem direito a defesa por parte dos condenados.
Os governantes não são inocentes, porque quem semeia ventos colhe tempestades. As nações mais abastadas, com os EUA à cabeça, pela apropriação prepotente que fazem das riquezas do mundo, e pela forma exclusivista como procedem à sua redistribuição, semeiam constantemente ventos de injustiça que facilmente se transformam em tempestades de ódio.
O cidadão comum não é inocente. Embalado por uma reconfortante preguiça mental, não busca soluções dentro de si próprio. Não procura a paz dentro de si próprio. Não parte para o relacionamento com os outros protegido pela paz interior.
O cidadão comum não é inocente. Enlaçado por um comodismo egoísta, não se solidariza com aqueles que, perto ou longe, precisam sentir compreensão e apoio. Mesmo quando essa solidariedade existe, nem sempre consegue manter o anonimato que veste de grandeza a dádiva despojada. Outras vezes, ela mascara uma publicidade fácil e sem despesas, ou lucrativos benefícios fiscais.
O cidadão comum não é inocente. Acomodado a uma rotina que se protege de desvios, não ousa exigir dos seus governantes, dos governantes que escolheu, uma prática política norteada por honestidade, dignidade, diálogo e paz.
Por tudo isto nenhum de nós é inocente, ou muito poucos o serão, se algum houver.
Inocentes são os que estão agora mortos. A morte deu-lhes esse estatuto.
Governos e cidadãos perguntam-se quem será o próximo, quem serão os próximos. Onde? Quando? Quantos?
Até onde irá o desrespeito generalizado pela vida? Até onde levará a fúria cega? Por quanto mais tempo a recusa em dialogar? Por quanto mais tempo o orgulho vão e falso, de parte a parte, que se autoconvence de possuir a verdade? Por quanto mais tempo a crença, de parte a parte, que o outro é a encarnação do mal? Por quanto mais tempo se manterá a negação, de parte a parte, de abdicar, de ceder, de negociar numa perspectiva de ganho que contemple da mesma forma uns e outros? Por quanto mais tempo o estrondo de bombas substituirá o som das palavras?
A Terra, apesar de tudo, é ampla e os seus frutos poderão dar para todos, chegar a todos, desde que a divisão seja equitativa. A cooperação já provou conduzir a resultados positivos no relacionamento entre os povos e no bem estar das populações.
Os países ricos recusam-se a esse entendimento, conforme ficou claro na recente reunião do G8, na Escócia. Por não perceberem isso, estão a ser castigados, física e moralmente. Por outro lado, não parece que os terroristas estejam a ganhar alguma coisa, até porque não apresentaram, até agora, qualquer projecto para discussão.
Sobre este resultado perverso de perde/não ganha, paira a sombra permanente dos ganhadores clandestinos, senhores sem pátria e sem escrúpulos, comerciantes sem pudor da morte pronta a usar.
Incógnitos ou escondidos atrás de imagens de respeitabilidade, de insuspeitos papéis sociais, ou de actividades legalizadas pelo poder instituído, criadores, fabricantes e vendedores de armas e munições, seja através de legítimos governos, seja de contrabandistas, recortam a seu bel-prazer o planeta em zonas de influência e de confronto, onde vão criando e alimentando teatros de guerra, de guerrilha, de terror, como se brincassem inofensivamente aos soldadinhos de chumbo.
A luta contra o terrorismo, para que o chamado mundo livre apela e que se propõe levar a cabo, inclui esta gente sem rosto e sem consciência, de quem nunca se fala quando a tragédia estoura, aumentando o número de inocentes?
Nós, os não inocentes, temos o dever de perguntar e o direito de resposta.
Neste dia, a Paris o que é de Paris, a Londres o que é de Londres.
Mas em Paris, em Londres, seja onde for, convido todos os não inocentes a honrar, ao menos por um dia, através da paz, a memória daqueles desconhecidos a quem, por nossa causa, a morte concedeu a paz da inocência.

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