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APARAS DE ESCRITA: A VÉSPERA DO TEMPO QUE NOS RESTA

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segunda-feira, julho 04, 2005

A VÉSPERA DO TEMPO QUE NOS RESTA


O tempo poderá ter um sabor diferente lido num relógio de ouro, ou num de plástico. Sabor diferente num relógio oferecido pela pessoa amada em dia especial, ou num outro comprado à pressa na relojoaria da esquina. Sabor diferente num relógio que recorda 35 anos ao serviço duma instituição, ou naquele sorteado numa rifa de feira.
Contudo, seja qual for o relógio, rico ou pobre, carregado de afetos ou sem recordações, nunca ele poderá medir o nosso tempo interior, porque esse tempo não há máquina capaz de conferir.
O tempo interior... O tempo que se dilui no contemplar de um pôr-do-sol, ou na mansidão de um sono tranquilo de descanso. Tempo que cristaliza na lembrança de um desgosto ou na vivência de um tormento. Tempo que explode durante as férias que parece nunca terem começado. Tempo inesgotável na rotina diária do emprego aonde as férias nunca mais chegam.
Para lá dessa instabilidade fruto da situação, o tempo aparenta correr a velocidades diferentes consoante a idade.
A criança quer ser "grande" para poder ir ao cinema a que o irmão já vai, ter permissão de deitar-se mais tarde como os pais, e fazer, enfim, um sem número de coisas sedutoras, mas que lhe estão interditas. Esse tempo nunca mais chega.
O velho, por sua vez, quanto mais velho mais regride nas suas memórias. Ainda ontem casou, já tem netos. Os anos que dedicou ao trabalho consumiram-se como um fósforo. Sente que o tempo passa depressa demais.
Por outro lado, ao longo do dia o tempo apresenta dimensões diferentes.
Fechado num escritório sem nada para fazer, sete horas de trabalho são um martírio à espera da saída. Se o trabalho aperta, mal se olha o relógio já passou da hora de fechar. E que dizer de sessenta minutos de namoro ao lado de sessenta minutos de estudo de uma matéria árida e antipática? Ou de uma hora no ginásio para manter o corpo saudável e esbelto, em contraponto a essa mesma hora fazendo fisioterapia depois de um acidente?
Além disto tudo, ainda a personalidade influi nesse sentir o tempo de forma diversa.
Pessoas há para quem tudo é lento. Pessoas a quem nada acontece num curso monótono, sem pontos de relevo, sem soluções de continuidade. Outras, então, num vibrar constante, parecem não ter princípio nem fim no seu quotidiano. Pessoas para as quais tudo se precipita.
De um ponto de vista físico, o tempo, afinal, não passa de uma convenção do homem para resolver os seus problemas científicos, técnicos, práticos, quotidianos. De um ponto de vista espiritual, é encarado como uma fracção da eternidade actualizada em cada instante.
Porém, seja qual for o enquadramento, não lhe escapamos, não fugimos à sua acção. No primeiro caso, refugiamo-nos na vaidade ilusória de passar por ele, de o dominar com os nossos maquinismos precisos, quase perfeitos na sua inesgotável imperfeição. No outro, absorve-nos sem misericórdia para essa eternidade donde surgimos, e à qual regressamos todos os dias um pouco.
Em qualquer deles as marcas vão surgindo. Marcas do que fizemos no mundo durante a caminhada, marcas do que o mundo fez em nós. Marcas na carne e na alma.
Envelhecemos, o que é também uma marca do tempo e do modo como o vivemos. Conforme nos habituámos a viver, também envelhecemos mais devagar ou mais depressa.
Envelhecimento, sabedoria. Conforme nos habituámos a viver, aquilo que fomos, o que fizemos e deixámos de fazer, o que consentimos e impedimos que nos fizessem, como interagimos no tempo e com o tempo, assim o nosso envelhecimento terá uma forma peculiar de sabedoria, a nossa.
Sabedoria, aquilo que nos fica do vivido da vida. Sabedoria tantas vezes desperdiçada naquilo que tem de bom, e tantas vazes indevidamente aproveitada naquilo que não é motivo de orgulho.
Já que no mundo em que vivemos não conseguimos parar o tempo, bom será, bom seria, de vez em quando, parar no tempo para reflectir sobre a sabedoria que vamos adquirindo, como compartilhá-la, como expurgá-la, repensar o que estamos a fazer no tempo e com o tempo. Afinal, cada instante presente é a véspera do tempo que nos resta até à passagem à outra dimensão do tempo sem instantes.

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