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APARAS DE ESCRITA: janeiro 2006

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sexta-feira, janeiro 06, 2006

OS TRÊS REIS MAGROS


Era uma vez três reis que, de magros, magros, magros, as suas fracas e sumidas figuras pareciam planas, e se confundiam com as suas próprias sombras.
Os três viviam no mesmo deserto, mas em cantos tão diferentes e tão distantes que não se conheciam. Nem mesmo sabiam da existência uns dos outros.
Eram reis pobres que pouco tinham de seu. Os súbditos, mais pobres ainda, há muito tinham deixado os reinos, incentivados pelos próprios reis, para procurarem noutras paragens o que ali não conseguiam para viver. E assim se foram espalhando pelo mundo.
Os reis permaneceram nos reinos vazios. Até os palácios tinham sido desmontados e distribuídos em pedaços pelas gentes, antes da partida. A riqueza de cada rei restava no camelo que montavam e num telescópio com que todas as noites procuravam desvendar os segredos das estrelas.
Um dia, depois de tentarem decifrar uma mensagem que pontilhara o negrume da noite, alusão a uma profecia dos livros antigos, partiram.
Após grande e exaustiva caminhada, encontraram-se os três à beira de um oásis de uma das rotas do deserto, e aí se conheceram. Contaram as suas histórias, e perceberam que tinham muito em comum. Assim se fizeram amigos.
Descobriram, então, que andavam os três na mesma busca.
Pelo estudo dos astros, anos a fio, ficaram a saber que, por aqueles dias, deveriam procurar uma criatura que poderia modificar a vida dos povos do deserto, tornando-a mais farta, fresca, e feliz. Ao que sabiam, o seu nome era Esperança, e a imaginavam uma bela mulher envolta em panos leves, ao vento como os cabelos soltos, alegre e viva qual regato, cheirosa que nem tamarindo, de rosto misterioso tal qual uma lenda, de formas sensuais assim as da preferida de um sultão.
Era essa figura que os três reis magros, mais magros da longa e áspera viagem, buscavam.
E, como o tempo se escoasse, puseram-se a caminho. Embora já amigos e solidários, cada um ruminava em segredo pensamentos de como tal criatura poderia influenciar as suas vidas.
Andaram dias e noites sem conta, seguindo o rumo que uma estrela cadente lhes ia indicando.
Já haviam perdido o conto de quantas auroras tinham passado, quando, numa tarde avançada, quase ao morrer do sol, distinguiram no horizonte uma silhueta fluida, mal definida, tremeluzente pelas ondas de calor que se desprendiam das dunas.
Para lá se dirigiram, e muito precisaram acicatar os camelos.
Chegando, depararam com um adolescente que deveria ter feições e formas gentis e agradáveis, talvez mesmo formosas, se não fosse o sujo antigo e encardido da pele, e os restos das roupas, outrora finas e bem talhadas, que agora o cobriam em pouco mais que farrapos.
- Jovem: porventura sabes tu quem é e onde mora alguém que, pelas revelações do céu, será uma magnífica mulher de nome Esperança? ? perguntaram os reis.
- Procurais no engano, pois que Esperança sou eu ? respondeu o adolescente admirado: nunca tinha visto reis, que de reis se tratava, a avaliar pelas coroas, assim tão magros.
- Mas... tu és um rapaz, e não uma mulher... Nem o teu sexo nem o teu aspecto condizem com quem procuramos. Nem o cheiro a que tresandas será o daquela que buscamos.
- Neste deserto, Esperança sou apenas eu. Ao nascer, minha mãe, encantada com a beleza do seu bebé, julgou que eu era uma menina, e deu-me este nome. Mas a vida cruel de fome e cansaço que levara não resistiu ao muito sangue que perdera. E, mal balbuciou o meu nome no oásis em que me deu à luz, morreu sem saber que, afinal, lhe tinha nascido um rapaz. Meu pai, guerreiro nómada do deserto, nunca conheci. Um velho comerciante, chefe de caravana que por ali acampara, tomou conta de mim, e entregou-me aos cuidados de uma escrava que criava o seu próprio filho recém nascido. Durante anos calcorreei o areal em todas as direcções com esse homem. Sábio, iniciou-me nos segredos e nos enigmas desta e doutras vidas. E por aqui ando, à espera do encontro com quem os possa partilhar.
Os três reis não acreditaram nas palavras do rapaz, e decidiram, em conferência, que ele seria um louco, alucinado pelos sóis do deserto, ou um impostor disposto a assenhorear-se, a troco de patranhas, dos escassos recursos que ainda possuíam.
Pela calada da noite, atiçaram a fogueira com as últimas cavacas e, sem ruído, desapareceram no escuro, abandonando o rapaz no seu sono profundo.
Cada vez mais magros, chegaram aos seus reinos que lhes pareceram de uma aridez maior do que quando haviam partido.
Apontaram os telescópios, vasculharam a abóbada celeste, retomaram fórmulas, refizeram cálculos, tentando descobrir o erro grosseiro que tinha dirigido os seus passos para o caminho errado.
Mas o caminho estava certo. O erro estava neles próprios.
Esperança tinha uma forma diferente da que idealizaram, e, feridos no seu orgulho, não quiseram ouvir o que a Esperança, na sua própria forma, lhes quis transmitir.
Magros, cada vez mais magros, procuraram, então, um caminho de retorno à Esperança em que insistem. Em vão. Há oportunidades que são únicas e, uma vez rejeitadas, não se deixam, de novo, agarrar.
Esperança continua jovem, cruzando o deserto para encontrar alguém a quem possa legar os seus segredos.
Dos reis magros, sabe-se apenas que, de tão magros, já lhes falta a força e lhes embaça a vista para procurar pelo telescópio, no caminho das estrelas, o rasto da Esperança que promete poder tornar mais farta, mais fresca, e mais feliz a vida dos povos deste deserto.
Em breve restará deles apenas um manto puído sobre uma magreza etérea, aos pés dum telescópio.

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terça-feira, janeiro 03, 2006

TRANSFORMAR O MUNDO


Se deixarmos este mundo da mesma forma como o encontrámos, a nossa passagem por ele não fez qualquer sentido.
A opinião pertence a São Paulo. Passados tantos séculos, ela continua, porém, a ser verdadeira e motivadora, dirigida por palavras simples, objectivas e certeiras às nossas consciências.
Compete-nos, pois, transformar o mundo. Toda a missão passa por aí. Claro que há diversas maneiras de o fazer, e alguns usaram e usam processos catastróficos. Mas, como é óbvio, "transformar" é aqui usado no sentido construtivo do termo, no sentido do serviço prestado ao homem pelo homem.
Assim, cada um de nós, na respectiva actividade e à sua maneira, deverá ser um transformador.
E, seja na profissão, seja no relacionamento interpessoal ou intragrupal, por mais simples ou por mais complexos, não cabe dizer que há posições privilegiadas em relação a outras na contribuição para este processo. O que poderá haver, talvez, é graus de responsabilidade diferentes no assunto.
A título de exemplo, exemplo que me diz respeito, refiro o jornalismo.
A notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica, o editorial, até as simples "breves", podem e devem ser alavancas de transformação do mundo.
Nota-se, porém, uma tendência cada vez maior para que a notícia, o principal produto do jornalista, se pareça com um balão asséptico largado na atmosfera para quem o quiser agarrar. Sem preocupações de interpretar, esclarecer e opinar, sempre que a oportunidade se apresenta, limita-se, praticamente, a cumprir uma função comercial, esquecendo, de todo, a função social intrínseca.
Vender mais papel ou facturar mais audiência parecem ser os objectivos máximos dos chamados órgãos de comunicação de massa.
É frequente uma notícia bombástica, quer pela forma como é apresentada, quer pelo seu conteúdo, merecedora de um aprofundamento da situação que relata até chegar a um desfecho elucidativo para o leitor, ser abandonada logo após ter cumprido a sua função comercial.
É verdade que no modelo económico em que vivemos qualquer órgão de informação tem de ser lucrativo. Mas a questão não está em ganhar dinheiro, mas sim em como se ganha o dinheiro. E é este questionamento ético, deontológico, que falta, muitas vezes, na informação.
Embora não haja receitas miraculosas, nem cartilhas irrepreensíveis, nem doutrina incontestável sobre o tema, a prática poderá sustentar-se numa filosofia em que os principais vectores sejam o bom senso, a responsabilidade, a honestidade e, já agora, por que não, a coerência editorial.
Ao contrário do que possa pensar-se, a busca da pureza da objectividade, que tanta polémica tem gerado e continua a gerar, atrapalha, com frequência o bom jornalismo. Confunde-se verdade, que é o facto, com objectividade, que é utopia. Daí resulta como notícia um amontoado de palavras, sem cor, deslavado, descomprometido quanto ao processo de transformação.
Por outro lado, o comprometimento encapotado com o governo ou um partido político retira, quando descoberto, credibilidade ao jornalista, ao meio de comunicação, e ao jornalismo. Compromete, assim, o processo de transformação. Um jornalismo assim estagna, apodrece, e morre.
Mas se ele for vivo, à medida que esse processo de transformação se vai operando, o próprio jornalismo tem necessidade de se transformar, adaptando-se às novas situações e circunstâncias. Quer dizer, à medida que participa na transformação, ele próprio se renova e actualiza.
Se assim for, se quem faz o jornalismo não deixou o mundo como o encontrou, mas o tornou mais acessível, através da narrativa, mais compreensível, através do esclarecimento, melhor, através da pressão das opiniões veiculadas, então valeu a pena ter passado por ele, valeu a pena ter existido.
Que o novo ano valha a pena para quem escreve jornalismo. E para quem lê, também.

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